Apresentações terceirizadas em eventos científicos
Em alguns congressos acadêmicos que participei diversos papers foram apresentados por pessoas que não eram as autoras originais. E foram todas apresentações ruins pois o apresentador improvisado não tinha nem conhecimento do assunto nem um bom script para seguir. Um número grande dessas apresentacões foi feita por brasileiros e isso me chamou a atenção. Parecia ter um certo senso de “não poder perder a publicação” e era válido, por isso, pedir para alguém apresentar.
Na minha visão, congressos são importantes pela criação de comunidade, não só por contar publicações para CAPES ou MEC. Se o evento é internacional então essas burocracias brasileiras nem importam para os participantes em geral. O que importa é encontrar gente que faz um bons trabalhos na área para que, por meio da interação entre as pessoas, todos possam crescer junto. Ter um paper aceito em um evento é uma troca que beneficia a todos: os autores recebem visibilidade na comunidade, a platéia conhece de maneira resumida um monte de trabalhos e pode escolher quais vai olhar com calma depois, e ainda por cima podemos todos sentar juntos para trabalhar e avançar a área como uma comunidade. Todo evento que vou tenho várias ideias interessantes, volto super motivado e com planos para melhorar meu trabalho. Várias coisas eu só sei por ter participados ativamente dos eventos.
Meu maior problema com apresentações “terceirizadas” é que não é só o autor que perde. Os participantes do evento deixam também de ter os benefícios que citei acima. De fato, o autor do paper original até que se sai bem. Vai ter o paper publicado e não “gastou” tempo e dinheiro viajando.
Um ponto chocante extra é que alguns enviam trabalhos para eventos internacionais e não sabem falar inglês. Não é só um sotaque carregado, falta de vocabulário ou mesmo uma fala pausada cheia de “hmm, hmm”. É um nível que inviabiliza comunicação e acaba criando um evento meio paralelo em que só se fala português. Isso não é uma exclusividade brasileira: quando eu estava no doutorado existia o evento paralelo em mandarim no ICIP e ICPR.
Enfim, não apresentar o próprio trabalho em congressos é uma ideia ruim que faz todo mundo sair perdendo. É isso.